quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

algo sem título, tenta seres tu a dar-lho

Perdido algures vagueando por entre a incerteza de tão indefinida que ela é. Sinto que algo está em falta. Algo que procuro no meio de tantas outras e não encontro. Após algum tempo a remexer recordações daqui para ali e de lá para cá e não ver nada definido continuando tudo tal e qual estava inicialmente, indefinido no meio do não definido, eis que começa a tentação de esperar, esperar que esse algo venha ao nosso encontro. Espera-se e desespera-se de tanto em vão se esperar por nada aparecer. Ele continua a girar e cada vez parece ser mais rápido. Levanta-se lá no alto e sombras crescem, crescem tanto que dão lugar à escuridão, escuridão essa que vem para ficar. De repente tudo desaparece ficando apenas um enorme vazio cujo qual não se alcança o final e assim permanece por indeterminada contagem. Vozes que se ouviam são agora distantes murmúrios. Escuta com atenção, concentra-te. Cada vez são mais distantes. Espera. Não, agora é tarde demais para esperar, esta imensidão de vazio outrora ocupada por peculiares vozes que de tudo murmuravam está agora repleta de um perturbante silêncio que tanto incomoda. Sem termos noção deixamo-nos escorregar por este abismo abaixo. Ainda gritamos mas a única coisa que se escuta são gritos mudos e expressões aterrorizadas movidas a bruscos gestos de quem cai e de repente nada se ouve, nada se vê e mais tarde, ao fim de tempo incerto, nada se sente e tudo desaparece. Algumas dúvidas mais tarde tudo recomeça. A busca incessante por algo que ao certo não se sabe ser. De tanta incompletude cada vez se nota mais e mais o que está em falta e novas dúvidas surgem. Repostas para elas? As mesmas que para as anteriores, nenhumas. Algo familiar começa a surgir, sente-se um calafrio a subir pelas costas acima e de seguida tudo começa a escurecer, de novo o vazio da escuridão cheio de vozes se avizinha e a largas passadas. Vai desaparecendo a ténue claridade que cada vez se vê mais distante. Breve momento de silêncio sem nada se ouvir. Escuta, é belo. Um turbilhão de vozes o ocupa sem se saber de onde vem ocupando todo o consciente. Uma luta tremenda tem lugar para vencer todas estas vozes que dizem para parar de procurar e reivindicar a derrota. Com ela quase assumida olha-se uma ultima vez em frente, sem se saber ao certo qual a orientação, e começa a surgir uma pequena luz. Esperança, talvez, mas não, não é esperança. Algo se vai levantando, não perante nós mas sim dentro de nós. O subconsciente e com ele traz uma nova dúvida. Estarei eu a procurar no sítio correcto? Levanto-me exaltado com tal questão e a escuridão desaparece, tomei-lhe todo o controlo que havia retirado completamente de mim. À minha volta está uma incontável quantidade de emoções, sentimentos, recordações e até mesmo vivências que me são exteriores. Tanto tempo olhando o que me é externo que me esqueci completamente de olhar para mim, não para a minha imagem ao espelho ou para o meu reflexo na água, não. Olhar para mim com olhos de ver, ver para além de mim, do que é óbvio. Afinal de contas, o que sou eu? Não passo de um mero singular, singular de sozinho ser, singular por preencher. Algo me falta, sim, algo. Indefinido por natureza de ser e de deixar de ser tão rapidamente quanto é. Não é preciso pedir para seres, é-lo pura e simplesmente. Como e porquê? Tanto quanto tu, não sei a resposta a menos que ma dês. Apenas resta pedir que não deixes de ser. Entras em mim e sais tão misteriosamente que mal se nota a tua presença. Movimentos subtis de pura suavidade para não marcar que terminam tão repentinamente quanto começam. Se entras e sais, porque não entras e lá ficas?

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