sábado, 6 de fevereiro de 2010

Doce tentação de novo

O tempo passa mas ela permanece
Não é necessário procurar muito
Basta apenas parar um pouco e ela surge
Parar para pensar, para reflectir
No correcto e incorrecto
Incertos tanto um quanto outro
E qual deles o mais…
A tentação, outrora doce
Agora se assume duvidosa
No ser e no porquê de o ser
Ilusões à realidade alusivas
De tantas palavras ouvidas
Antes doce
Agora questionável
Eis a nova face da tentação

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

algo sem título, tenta seres tu a dar-lho

Perdido algures vagueando por entre a incerteza de tão indefinida que ela é. Sinto que algo está em falta. Algo que procuro no meio de tantas outras e não encontro. Após algum tempo a remexer recordações daqui para ali e de lá para cá e não ver nada definido continuando tudo tal e qual estava inicialmente, indefinido no meio do não definido, eis que começa a tentação de esperar, esperar que esse algo venha ao nosso encontro. Espera-se e desespera-se de tanto em vão se esperar por nada aparecer. Ele continua a girar e cada vez parece ser mais rápido. Levanta-se lá no alto e sombras crescem, crescem tanto que dão lugar à escuridão, escuridão essa que vem para ficar. De repente tudo desaparece ficando apenas um enorme vazio cujo qual não se alcança o final e assim permanece por indeterminada contagem. Vozes que se ouviam são agora distantes murmúrios. Escuta com atenção, concentra-te. Cada vez são mais distantes. Espera. Não, agora é tarde demais para esperar, esta imensidão de vazio outrora ocupada por peculiares vozes que de tudo murmuravam está agora repleta de um perturbante silêncio que tanto incomoda. Sem termos noção deixamo-nos escorregar por este abismo abaixo. Ainda gritamos mas a única coisa que se escuta são gritos mudos e expressões aterrorizadas movidas a bruscos gestos de quem cai e de repente nada se ouve, nada se vê e mais tarde, ao fim de tempo incerto, nada se sente e tudo desaparece. Algumas dúvidas mais tarde tudo recomeça. A busca incessante por algo que ao certo não se sabe ser. De tanta incompletude cada vez se nota mais e mais o que está em falta e novas dúvidas surgem. Repostas para elas? As mesmas que para as anteriores, nenhumas. Algo familiar começa a surgir, sente-se um calafrio a subir pelas costas acima e de seguida tudo começa a escurecer, de novo o vazio da escuridão cheio de vozes se avizinha e a largas passadas. Vai desaparecendo a ténue claridade que cada vez se vê mais distante. Breve momento de silêncio sem nada se ouvir. Escuta, é belo. Um turbilhão de vozes o ocupa sem se saber de onde vem ocupando todo o consciente. Uma luta tremenda tem lugar para vencer todas estas vozes que dizem para parar de procurar e reivindicar a derrota. Com ela quase assumida olha-se uma ultima vez em frente, sem se saber ao certo qual a orientação, e começa a surgir uma pequena luz. Esperança, talvez, mas não, não é esperança. Algo se vai levantando, não perante nós mas sim dentro de nós. O subconsciente e com ele traz uma nova dúvida. Estarei eu a procurar no sítio correcto? Levanto-me exaltado com tal questão e a escuridão desaparece, tomei-lhe todo o controlo que havia retirado completamente de mim. À minha volta está uma incontável quantidade de emoções, sentimentos, recordações e até mesmo vivências que me são exteriores. Tanto tempo olhando o que me é externo que me esqueci completamente de olhar para mim, não para a minha imagem ao espelho ou para o meu reflexo na água, não. Olhar para mim com olhos de ver, ver para além de mim, do que é óbvio. Afinal de contas, o que sou eu? Não passo de um mero singular, singular de sozinho ser, singular por preencher. Algo me falta, sim, algo. Indefinido por natureza de ser e de deixar de ser tão rapidamente quanto é. Não é preciso pedir para seres, é-lo pura e simplesmente. Como e porquê? Tanto quanto tu, não sei a resposta a menos que ma dês. Apenas resta pedir que não deixes de ser. Entras em mim e sais tão misteriosamente que mal se nota a tua presença. Movimentos subtis de pura suavidade para não marcar que terminam tão repentinamente quanto começam. Se entras e sais, porque não entras e lá ficas?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Doce tentação

Fechada em algo que não ela
Sem abertura conhecer
Voltas e mais voltas
Todas elas em busca da chave
Chave que não se encontra
Chave que jamais se compra
Continua-se a procurar
Durante tempo incerto
Tenta-se uma e outra vez
Ora roda-se para a esquerda
Ora roda-se para a direita
Nada se ouve
Dia após dia
Chave seguida de outra chave
Pára-se para pensar
E se não é da chave?
E se é de quem a tem?
Com tanta chave experimentada algo se passa
Ou talvez até nem se passe nada
Certamente será esse o problema
No dia seguinte tenta-se algo diferente
Deixa-se de utilizar a força e usa-se a paciência
Esta aliada à perspicácia muito pode fazer
Voltas e mais voltas
Não às chaves
Mas antes à cabeça
Como cederá?
Levanta-se a questão
A resposta é simples
Não cede
Permanece impune ao resto
Amargura do desespero a crescer
A cada momento aumentando
Não se mostra parte de fraco
Revela-se algo mais para além do superficial
A cada palavra nova algo vem ao de cima
Tanta impureza libertada
Uma nova faceta revelada
Do nada algo cede
Um ligeiro ruído de fundo de uma fechadura a ranger
Algo se vê
Mas nada em concreto
Uma silhueta mal definida no meio de algo não melhor definido
Desilusão?
Podem-lhe chamar de tal se quiserem
Pessoalmente não o penso dessa maneira
Não desisto da ideia da definição
Muito menos de algo indefinido
Continuo mesmo quando dizem que basta
Uma indefinição não é suficiente por si
Da silhueta indefinível surge algo mais
Não dúvidas sobre o que será
Mas sim algo diferente
No meio de tanto eis que surge
A doce tentação de continuar
Porquê, perguntas
Tanto quanto tu
Também eu não sei responder